sexta-feira, 25 de março de 2016

Runei - o despertar da multidão ( 1 de 2 )

A luz do fim do túnel recordava ao coração dos meninos que uma estação havia se passada desde que saíram de sua casa, desde que acreditaram no que Sten e Loreah tinham como objetivo. Pãtrio e Pirtrio estavam uma estação mais velhos, caminhavam com a certeza de que agora poderiam enfrentar o senhor da parte alva. Sten analisava o símbolo entalhado na sua armadura, lembrava das mãos de Marian e da proximidade que seu corpo teve com o dela naquele momento, suspirou. Os nove soldados olhavam as três figuras que se tornaram amigos da aldeia a pouco tempo e levavam um papel importante naquela guerra. Para chegarem até aquele túnel enfrentaram mais sete soldados escarlates e graças ao pensamento apurado de Pãtrio, agilidade de Pirtrio em buscar recursos e a ferocidade de Sten ninguém havia se ferido gravemente.


Enfim chegaram a figura desolada da parte baixa de Runei, as casas estavam mais quebradas e remendadas do que quando saíram. Pirtrio passou pelas casas correndo, sua saudade era grande, chamava seus amigos via os adultos que ainda pareciam completamente apáticos, entregue as designações da parte alva.
— Sten fique por aqui, precisamos nos organizar. Para que toda Runei aceite nossas ajuda temos que começar por aqueles que como eu já estão com a insatisfação e para garantir que isso ocorra com tranquilidade, precisamos tomar alguns cuidados. Vocês podem esperar nessa entrada enquanto fazemos nossa reunião, eles não te escutarão.
— Compreendo, estaremos aqui esperando.


Pãtrio foi caminhando até a casa especial para seu coração, passou pelo labirinto conhecido como a palma da mão, retirou uma madeira de um amontoado e se revelou o cômodo. Cadeiras desregulares faziam muitas estavam encostadas nas paredes do pequeno espaço, a cama aonde sua avó vivia deitada estava vazia. Os olhos encheram-se de lágrimas, entendia muito bem o que significava o silêncio no comodo. Virando para trás se deparou com Pirtrio.
— Pelo visto já descobriu
— Sim – a primeira lágrima rolou, pelo rosto de Pãntrio.
— Acabei de escutar de Oluone, mama se foi. – o jovem abraçou Pãntrio, que logo se desvencilhou do abraço enxugo os olhos.
— Vamos! Temos muito que fazer, falar – pressionou os dentes fazendo eles rangerem um pouco – vamos recuperar nossa aldeia e fazer dela tão próspera quanto Tya.


Durante todo o dia, os dois meninos espalharam o pedido de uma reunião com todos os moradores do buraco. Se quisessem cada uma das regiões poderiam mandar apenas seus representantes, Pãntrio preparava sua proposta. Esperou com calma a noite chegar, então estava com três meninos e sete adultos que eram os que representavam cada área de Runei.


- Boa noite, sabia que poderia contar com vocês. Há uma estação, sai daqui buscando uma alternativa para melhorar nossas vidas. Fazer o buraco se tornar algo melhor para todos e talvez tomarmos toda a Runei para nós – Sua face mantinha-se seria, aprendera com Guinn que parte da liderança está na sua capacidade de não ser afetado pelos sentimentos emanados pelos outros.
— Como você pretende fazer isso? Aqui somos só mineiros e os poucos soldados com sanidade o suficiente para voltar para cá não vão querer lutar contra os cavaleiros alvos – Um senhor representando o fronte central questionava.
— Quando sai daqui, foi com o objetivo de aprender o que fosse preciso para conseguirmos isso. Aprendi muito de tática.
— Aonde foi que aprendeu isso? – perguntou um dos meninos de cabelo castanho.
— Tya – mesmo sabendo o que viria em seguida, aprendeu que ser verdadeiro poderia gerar uma maior confiança
— Os traidores históricos? – Zombou o líder do fronte esquerdo.
— Não estou aqui para defender o ato de covardia que eles exerceram, quando a população mais pobre de nossa cidade foi mais subjugada pelos ancestrais de Vasnir. Estou aqui para mostrar para vocês que eles agora estão dispostos a nos ajudar, suas tem tropas indo para todas as aldeias possíveis para nos unir. Eles tem ainda outra missão, querem lutar contra a limitação do senhor dos cavaleiros escarlates.
— Sabia que eles iriam querer algo em troca.
— Eles não estão pedindo nada demais, apenas que apoiemos no combate. Não vão definir quem governara nossa Runei, pelo contrario eles querem que possamos viver em harmonia. Buscam a liberdade de todos os povos.
O silêncio tomou conta do barraco feito de retalhos de madeira, dava pra sentir a densidade do ar aumentando com os pensamentos. Pãntrio percebia pela primeira vez o que a caminhada até Tya havia feito por ele, pensou também em tudo que Guinn o ensinou. O reflexo de viver em um local totalmente diferente e com conceitos novos sobre a liberdade e o respeito era vivido em seu peito. A vontade transbordava.
— Como podemos fazer isso? – O homem que estava ainda na defensiva, perguntou
— Tenho algo planejado mas precisamos que todos os capazes de lutar nos ajudem.
_ Você tem nosso apoio – Pirtrio puxou a resposta já apresentada no silêncio anterior.


A lua se apresentava no seu ponto mais alto, ela estava completa e iluminava com propriedade todo o deslocamento dos mais velhos e incapazes até a entrada do túnel. Camas improvisadas foram feitas para tentar acomodarem da melhor forma, Sten pensou em utilizar as árvores próximas mas lembrou do veneno que elas continham. Então a única coisa que utilizaram foram as madeiras e palha que compunham a maioria das camadas dentro das casas. O sol surgia, as engrenagens da porta anunciava a verificação. Os soldados alvos já estavam caminhando em direção ao povoado do buraco. Sten avisou quando eles desceram a grandes escadas, identificou também qual deles possuía a chave da porta vermelha e dourada. Fez sinal para seus soldados que estavam nas primeiras construções aguardando o avanço das tropas. Cada soldado já havia se posicionado, exceto o portador da chave, estava em cima da escadaria aguardando a volta daqueles que estavam abaixo de sua patente. Ao primeiro som do bater a porta aqueles todos que estavam escondidos surgiram, incluindo Sten que disparará em direção a grande escadaria com seus machados firmes nas mãos. Os primeiros cavaleiros alvos foram mortos, mais para dentro do complexo de casas do buraco alguns homens foram feridos por um soldado que tentava se desvencilhar da emboscada, outros soldados tentavam correr e eram desequilibrados. A tática de Pãntrio consistiam em os soldados de Tya matarem os primeiros e distribuírem as espadas entre os moradores de do buraco.


Os pés de Sten por mais velozes que fossem não conseguiriam deter o guarda, um soar do sino soou e arqueiros apareceram das grandes janelas da grande parede de pedra branca. Lançou então seu machado em direção ao cavaleiro e pulou desviando do primeiro disparo. Rolou. Alcançou o primeiro degrau da escada, o cabo acertou o elmo na parte de trás da cabeça do homem. Uma flecha acertou a ombreira de Sten. Ele que em pensamento brigava detestava o peso da armadura agradeceu por ela o proteger do disparo. O cavaleiro alvo sentia ainda o efeito do ressoar da armadura quando retirou sua espada. Finalmente o selvagem alcançou o oponente enquanto outra flecha acertava o chão da escadaria aonde estava.


Os nove de Tya haviam conseguido distribuir bastante armas e poucos soldados alvos tinham escapado do ataque surpresa. Os moradores do buraco aproveitavam para pegar as armadura brancas.


O Golpe veio com força na direção de Sten, ele desviou com velocidade para a direita e contra-atacou com um corte de cima para baixo com seu machado. O som dos metais se chocando fez o atacante rilhar os dentes, afastando-se para trás o cavaleiro branco preparava um ataque na horizontal, quando foi atingido por um chute. Os arqueiro vendo a luta não quiseram arriscar disparos, poderiam causar a derrota de seu aliado e deixar a chave da porta vermelha e dourada nas mãos daquele homem. Sten recuperou seu segundo machado e aparou uma investida que vinha em diagonal, prendeu a espada formando um xis com seus machados. Empurrou o oponente até a costas dele encontrarem a porta monumental. O molho de chave caiu. Os olhos por trás do elmo do cavaleiro branco fixaram no objeto, distração suficiente. Sten o empurrou mais uma vez fez a lamina do machado esquerdo cortar a garganta do seu oponente, sentiu o líquido morno pingar em sua pele quando escorreu pela armadura que agora ganhava o tom escarlate. Seu corpo estremeceu, fazia algum tempo que não sentia essa sensação, não matava animais a algum tempo e muito menos um ser humano. Alguns instantes e seus olhos voltaram ao opaco de quando ele vivia na floresta-sem-luz.


Uma flecha o fez acordar, pegou o molho e testando chave por chave, enquanto desviava dos ataques dos arqueiros, enfim uma fez o giro completo na porta, as engrenagens não se mexeram. Isso era previsto por Pãntrio, então correu de volta para cidade já que a primeira tentativa havia sido frustrada, uma nova saraivada estava preparada e dessa vez com fogo nas setas. Os disparos aconteceram e como previsto a parte do buraco seria tomada pelo fogo rapidamente, tudo que havia ali era madeira, entulho ou palha. A primeira parte havia sido concluída. Todos já estavam no tunel.


Subiram o túnel em direção a entrada principal enquanto as casas pegavam fogo, derrubaram as paredes para que o fogo não atingisse o interior. Subiam para o local de início do túnel, sabiam que dariam próxima a entrada superior.


— Vou sozinho! – Sten decretou, sentia no fundo de sua cabeça um latejar comum. Alguma coisa estava preste a acontecer.


Andou até a entrada e girou a chave, as engrenagens se moveram e a porta estava aberta.

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