sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Tya - O inimigo

 O lago cintilava em tons prata e azulado, refletia o sol apresentando seus primeiros raios. Um homem de cabelos brancos estava parado. Olhos fixos, sua imagem deitada na superfície do lago. Porem ele não olhava para o espelho, ele olhava através dele. A era dos reinos. Seu coração estava apertado, a garganta oprimida por um grito que não queria sair. Enfim uma gota abalou a água do lago.

—Gostaria de ter a honra de levar-lhe para um grandioso jantar.- ele fazia uma reverência.
Por aqui não é assim que se convida uma dama. Tem que provar o seu valor – O desafio veio pelos lábios da ferreira.
—Achei já haver provado meu valor a todo reino— Ele entrou naquela dança.
—A meu reino não me faz, eu faço o meu reino. Devia saber, essas foram as palavras de posse do primeiro rei de Mengua — Ela o girou dentro da própria cabeça.
— Ofereço minhas mãos para construir o futuro, meus pés para abrir os caminhos inexistentes, minha espada para vencer os inimigos que lhe querem negar a felicidade e meu coração para completar tudo que faltar no seu— A sinceridade foram os dois passos à frente.
— E seu escudo?— Ela pisou duas vezes atrás.
—Eu não uso escudo— Foi a vez dele executar o passo atrás.
—O que faria diante de um mal inevitável?— O passo dela foi a frente.
—Daria minha vida para purificá-lo. Não uso escudo porque eu sou o escudo.— Enfim se encontraram.”


—Estou dando minha vida. Porque eu sempre serei escudo— Ele balbuciou, chorava por Aurinia.
Cerrou seus punhos, a noite o acompanhou. Sussurrou durante a madrugada alguma das lembranças, que levaram até aquela. O quebra-cabeças muda a cada peça. Liof junta as peças com maestria apesar disso lhe causar uma imensa dor de cabeça. Agora sabia mais sobre o inimigo.

Loreah descobrira durante a noite, Bonecos fixos de madeira. Eram resistentes, feitos para o treinamento dos guardas. O torneio se aproximava fazendo com que esses bonecos fossem encontrados com maior frequência. Ela passou a noite ali, constante. Repassava na sua mente.

Surgiu atrás, larguei o arco, aquela distância não seria efetivo. Peguei adaga, me virei tentando golpear a barriga. Porque a barriga? Era o movimento mais correto, um ataque visando a defesa para conseguir espaço. O primeiro ataque veio da lateral. Eu errei, devia ter previsto o deslocamento e aproveitado o peso do movimento. A guarda me acertou. Eu não perdi ali. Ela encurtou a distância e abraçou meus braços e me deu uma cabeçada. Sem elmo, eu retirei ele com adaga. Como eu venceria?”

O ciclo vicioso, rodou a noite inteira. Fazia isso porque seus treinamentos falharam em algum ponto e quando isso acontecia ela repassava exaustivamente a situação até tornar espontânea a reação. Ela sabia pensar melhor em batalha. Os bonecos sofreram com adagas, espada curta e por último a flecha. Ela saltava para algumas direções e disparava o quanto pudesse antes de terminar o movimento de rolar. Retesou a corda do arco e pulo para trás, o alvo estava a quinze passos. Deixou a flecha buscar abrigo, usou outra, já estava posicionada na mão que segurava o arco. Antes de encostar no chão atirou a segunda. Rolou, quando suas mãos encontraram a posição correta impulsionou o corpo para trás enquanto estava no ar puxou outra flecha, ela estava amarrada em sua perna, caiu agachada. Equilibrada e disparou a flecha. O barulho no boneco foi como tamborilar de dedos em cima de uma mesa de madeira, sequência e imediato. Ela não estava satisfeita. Puxou mais duas vezes o arco e sorriu quando o elmo  do boneco foi retirado pela última flecha.
Abandonar o arco foi meu erro, devia ter usado a madeira para ajudar na defesa. ” Decretou.

Pãtrio e Pirtrio dormiram no mesmo quarto, queriam conversar sobre a nova emprestada. A conversa demorou pouco, Pãtrio colocou seus pontos de vista e Pirtrio apenas respondia com mono sílabas afirmativas então adormeceram em uma superfície macia. Sonharam pela primeira vez.

Marian fechou os olhos e deixou sua mente vagar antes de adormecer. A tenda lilás chamou sua atenção, dentro dela uma mulher de vestes brancas carregava flores-de-luz cor lilás. Ela sorria. O local aonde deveria haver o coração da mulher, tinha uma chama amarela mais brilhante que as flores, parecia nutrir toda aquela tenda. Olhou para cima e viu o teto da tenda subir, A tenda cobria Tya. A mulher mergulhou a mão dentro do seio esquerdo e sua mão agora estava envolta naquela luz, ela acariciou o rosto de Marian que foi aconchegado pelo fogo. Ele a abraçou e trouxe paz. Um clarão levou sua consciência. Ela dormiu até o amanhecer.

Sten dormiu como uma pedra.

Liof caminhava em direção a tenda, encontrou a ladina ainda treinando.
—Loreah, chame todos tenho novas informações sobre o dono do castelo branco.
A curiosidade fez ela guardar a espada curta e ir chamar todos em seus quartos. Reunidos o estalajadeiro, ofereceu frutas, pães e geleias. Somente os dois meninos comiam quando Liof começou a história.
— Prestem atenção, essa é a história mais antiga que consigo lembrar. Foi contada para mim por Ant'jur. Repetiu para mim muitas vezes. Ontem na tenda conversei com Duia, a curandeira dessa cidade. Aqueles que duvidavam da magia encontravam nela a prova, de alguma forma ela ao morrer continuou por aqui. Acredito que seja o anseio de curar todas as feridas do mundo. Enquanto existir isso no mundo ela deve habitar aqui — Ele não fazia ideia de como esse raciocínio saiu de sua boca — Fui ameaçado, pelo dono do castelo através da porta aberta por ela naquela pequena menina, ela fez o favor de ocultar vocês dele. Sua presença acionou muitas memórias, quanto mais perto da magia mais elas surgem. Essa lembrança surgiu enfim, a história de como ele surgiu. — Ele olhou nos olhos de todos, precisava de atenção. Prosseguiu — A escuridão era o mundo, e o mundo não existia. Dois deuses meninos com poderes de criar. Brincavam e fizeram céus, montanhas, rios e mar. Aprenderam a fazer vida, aprenderam a reação criar. Enfim livre-arbítrio aprenderam a entregar. Fizeram então do emaranhado de si mesmo o primeiro filho, tais como as montanhas que se destruíram até poucos sobrar. O segundo filho nasceu, tais como rios e encheram de vida as montanhas. Maravilhados com a criação resolveram criar o último. Esse teria a força do primeiro, a vida do segundo e conhecimento dos dois. Eles sabiam de coisas além das estrelas. Sabiam das estrelas onde habitavam os pais e esses mundos eram ligados por um rio de magia sem fim. O último filho seria um barqueiro. O criaram e ensinaram a navegar. Eles esqueceram, porém, que para fazer todos os seres daquele mundo usaram da escuridão e a escuridão puniu. O último filho se julgou maior que os próprios pais, pois vislumbrou o poder de seus avós. Atacou por fim os dois. Fazendo nas montanhas sangrarem, derramaram a essência do rio e antes que se esvaíssem na criação. Amaldiçoaram o último filho. Um sussurro do pai, transformou a arma que os sangrara em fluxo vivo de seu desejo. A mãe abraçou o céu e fez chover sobre sua navegação. Ele só poderia enxergar abaixo de seus pés e sentir as oscilações do rio. Apenas sentir.


Todos estavam parados escutando. Estáticos. Os meninos haviam parado de comer, perplexos.
—O que isso quer dizer?— Loreah não tinha saco pra interpretar contos antigos. Havia mais coisas a fazer.
—A arma usada contra seus pais era o orbe encontrado na fuga da tentativa dos guardiões. Aquela época não sabíamos que ele existia, quando entrei em contato com o orbe eu sabia. Sabia do mundo, mas isso não é o importante. — Ele fez uma pausa — O importante é que ele só pode nos encontrar através da magia. A magia perto de mim ele pode sentir a minha reação. Ele me caça a primaveras.

Pãntrio e Pirtrio estavam perdidos na conversa. Sten compreendia muito daquilo por ter partilhado de algumas histórias vindas de Liof. Loreah foi acometida de uma profunda reflexão. Marian se aproximou do guardião.
— Você pode me ensinar? Sobre a magia?
— Eu também quero — os irmãos soaram em uníssono. Um costume bem comum deles.
—Desculpa, não é algo que possa ensinar. Algo flui por você.
—Ela flui por mim. Duia me mostrou isso ontem. Em sonho.
—Foi só um sonho.— Ele a testava.
— Assim como o que tive com Sten e Loreah em uma casa.— ela persistiu.
—Sim.
— Sten me contou sobre a fuga da cidade dos meninos aqui. Foi igual. Carregando suas figurações.
Liof viu, finalmente ela havia entendido.
—Começamos amanhã, vou conversar com a regente.

Sten acompanhou seu mestre. Loreah foi ensinar Marian, estava distraída. Pergaminhos roubados assombravam suas memórias. Pãtrio e Pirtrio foram caminhar pela cidade, a cada lugar conhecido o ódio pelo lugar se dissipava.

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