segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Viajando entre mundos - Os substitutos

A beleza você perde do observar com o tempo, a prova disso são as pequenas e marcantes lembranças de infância. Ficou marcado em mim o dia em que vi os brilhos nos olhos do meu pai, andávamos pelas ruas de pedras quando avistamos um homem que vendia cores mil em uma tela, meu pai perguntou ao homem quanto custava, algumas moedas de cobre foram o suficiente para que ele passasse aquele mundo novo para as mãos do meu pai. Aquele capricho fez nossa sopa de frango e legumes virar sopa de legumes, eu e meu pequenino irmão não ligamos muito para o frango. Esse foi o início da nossa busca pela capacidade de desenhar em qualquer coisa e com qualquer coisa. Lembro de esfacelar as rosas nas pedras perto do lago que tinha a frente de nossa casa. Eu chamava de lago, nunca tinha reparado que aquilo era um charco acinzentado e verde. O dia das rosas ficou pra mim como um dia bonito pelo tom que deixei nas pedras e triste por nosso pai. Ele foi mandado para guerra, minha mãe falava que ele tinha arrumado um trabalho na corte mas eu vi quando ele vestiu a armadura e partiu para a fronteira. Sempre quis uma pintura em tela copiando o que fiz nas pedras.

A nostalgia que me causa esse quadro em que nos encontramos é enorme, por isso desato a falar sobre como eu era. Eu nunca contei pro pequeno Mark que nosso pai foi pra guerra. Ele é o homem de cabelos loiros escuros que está tentando entre minha antiga forma e o homem que vai tirar a sua vida. Esse é o local do espaço-tempo que sempre venho, quando começo a esquecer os olhos corajosos dele e o quanto de medo tinha nos meus. É um problema do tempo, quando a ampulheta da minha vida se resolveu se esgotar de forma preguiçosa é que percebi. Seres mortais como os seres humanos têm uma ânsia por realizar as coisas imediatas, talvez se pensassem um pouco e aproveitassem, o tempo parava de ser inimigo e contribuiria para que fizessem pelo menos uma coisa que talvez atingisse a eternidade. Tem alguns que se perdem entre os arrastarem da vida e querem apenas não existir, me divirto vendo suas ampulhetas cheias. Alguns me chama cedo demais, não posso fazer nada a questão das ampulhetas é algo que está gravado com fogo neste tomo. Ela que define o quanto você ainda vai permanecer preso. Os grãos de areia vão determinando a distância em que podem estar de suas prisões de carne até que se livrem por completo e eu venha buscar. Há também aqueles que conquistam glórias e se julgam maiores que os antigos, que se julgam a cima até de mim.

Eles não sabem o peso que um poder consome, as vezes venho aqui para recuperar a sanidade. Lembrar que um dia pertencia a humanidade e assim ainda poder sentir a beleza nos quadros horrendos que observo. A ampulheta daqueles que são gloriosos e pisam sobre vidas e ouro escoa rápido. Uma ironia por si só. É chegado o tempo, você tem que entender que tudo tem um preço. A mulher de cabelos furta-cor que me passou o tomo e a foice não teve oportunidade nenhuma de conversar comigo, um sentimento maior arrebatou o cargo para mim. Não entendo até hoje, talvez isso já estivesse escrito no livro do mais velho. É chegado o momento.

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A figura a frente do garoto que aparentava ter os seus quinze anos, entregou o tomo e a foice, quando as mãos do menino tocaram no objeto o ser a sua frente desapareceu em uma nuvem que se direcionou a figura estática do jovem de olhos medrosos. O tilintar das correntes chamou atenção do garoto que saiu daquele quadro, ele não soube muito bem como, O encapuzado que possuía correntes presas em suas mãos e um livro aberto suspirou.
- Muito bem! Outro substituto, Não perca tempo. Leia o tomo e aprenda como funciona os mecanismos nossa procura por ela tem que continuar.

O menino abriu a capa.

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