sábado, 22 de agosto de 2015

A morada dos Guardiões - Um começo e Anilea

Liof e Sten terminaram de escalar o paredão da cachoeira assim que os primeiros raios de sol brotaram, encontraram Loreah atenta a cada movimento. Reconhecendo os dois ela abaixou sua adaga.
—Agradável e oportuno é a presença de vocês pois dormimos aqui essa noite por persistência de Marian. Eu teria enveredado pela floresta e encontraria uma forma melhor de nos alimentar do que com o resto dos grãos e frutos.

Liof olhou curioso, algo nos cabelos loiros e nas sobrancelhas arqueadas da ladina o entretinham. Era como uma comichão na mente, que faz você querer escutar de novo uma charada ou desafio.
—Ainda bem que não fez isso, essa floresta é protegida. Por um dos seres mais bonitos que pude ver de perto e o mais perigoso — pelo menos era assim que ele se lembrava, algo em sua cabeça o fazia esquecer dois encontros, duas peças que faltavam em toda aquela história: o monstro vermelho e o senhor do castelo branco — existe um abrigo capaz de suporta dez vezes o número de pessoas que temos aqui mas precisamos da aprovação do protetor.

—O que estamos fazendo aqui então? Vamos logo.

Sten avançou pelo acampamento, acampamento seria um elogio para o que ele via, algumas tendas baixas e furadas, muitos dos panos servindo apenas de forro para o chão. Seus olhos então encontraram quem ele queria encontrar, Marian conversava com uma menina pequenina. Ele não escutava voz da moça a um tempo e ela pareceu a melodia mais limpa e pura que escutara. O frio aumentou dentro de sua barriga. Quando os olhos dela encontram-se com os deles foi como uma faísca vindo do atrito entre duas pedras, algo bem rudimentar e como a primeira tentativa de acender uma fogueira a chama se desfez no ar. O sorriso permaneceu.
—Achei que você não viria mais. - o tom brincalhão pegou o rapaz de surpresa.
—Eu te falei que era só esperar.- ele não soube manter o ar tão leve
—Porque vocês não chegaram com a Loreah?
—Ela não te disse?
—Não, ela evita ao máximo falar de você.
—Estava ajudando o meu mestre, e juntamos alguns recursos—ele deu um tapa leve na bolsa feita de folhas e cipós
—O que tem ai?
—Algumas folhas, sementes e seiva. Coisas que o meu mestre pediu para nos ajudar com a nossa caminhada. Ele me disse que dentro dessa floresta, existe o velho abrigo dos Guardiões.
Marian se animou, sempre escutou de seu pai que os guardiões eram os maiores guerreiros de todas as aldeias e que ao final das guerras os soldados escarlates deram terras para algum deles.
—O que estamos esperando? — disse ela assombra da culpa havia deixado seus ombros.
Ele queria prolongar um pouco mais a conversa mas não arranjou o como e foi sucinto.
—Então vamos!
Enquanto Sten foi pedir pra Liof guiar a todos, Marian avisava a todas as pessoas o que eles fariam. Rapidamente todos se reuniram na entrada da floresta e o Guardião pediu para que todos dessem as mãos que ele guiaria e que independente do que vissem não soltassem as mãos ou corressem. Ele entrou encontrando a escuridão e as luzes das raízes e folhas brilhando mais fracas do que ele se lembrava, Sten era o segundo na fila olhava impressionado pela beleza dos desenhos das árvores. Eles andavam com calma em pouco tempo estavam na entrada do local. O sol adentrava a planície por frestas específicas fazendo ele se espargir e iluminar o necessário para que todos enxergassem o local e soubessem que era dia. Havia escudos, armas e armaduras. Terminaram de entrar a se abrigarem, o local era aquecido, a abóboda feita de raízes e galhos criava contraste interessante com o céu nas frestas. Liof se conservava na entrada, vendo todos esperançosos com a nova casa. Ele se lembrou do outro momento. A última vez que tinha visto aquele local. Um frio subiu por sua espinha, ele lembrou que existia um perigo maior. Lembrou-se da promessa.
—Liberdade é tudo que queremos – ele escutou sua voz de eras atrás dizendo isso.
—O que você está falando Liof – Sten surpreendeu o homem agora não tão magro.
—Nada — seu pensamento vagou por segundos em silêncio e fisgou o que queria—Venha comigo.

Eles andaram, os pés de Liof sabiam aonde ir, eles voltaram para a luz fraca das raízes e árvores. Seguiram por muito tempo ou pouco nenhum dos dois saberia, a escuridão curiosamente deixa o tempo indistinguível. Chegaram à abertura que daria para as costas do esqueleto, um dos vales antigos. Uma pedra de proporções enormes bloqueava a única passagem para aquele local, a pedra era de um azul nunca visto pelos olhos do rapaz. Uma linha delimitava uma sombra estranha dentro da pedra que era translúcida em certas partes e negra em outras. O azul da noite de lua cheia e o verde da folha mais clara se misturavam em equilíbrio ali.

—Para onde foram o protetor e os animais? —O guardião refletia consigo.
—Raramente em florestas vivas como essa existem animais, foi o que você me disse a tempos atrás.
A sobrancelha de Liof mostrava seu total desconhecimento da lição aplicada ao menino.
—O que mais eu te falei?
—Falou que as que possuem, tem animais fantásticos, você me mostrou na parte normal da floresta os animais raros que havia ali. Os lobos de olhos diferentes, que caçavam de formas diferentes.
—É verdade, agora me lembro um pouco. Lembro do seu silêncio.
—Sim, você ensinou que ouvir é mais precioso que falar.
—Algo me diz que precisamos destruir essa pedra, ela não pode ser destruída por nossas ferramentas, como faremos então? —O lampejo dos pergaminhos passaram pela mente do velho
—Temos os escritos.

Eles retornaram ao acampamento, acharam os pergaminhos mas eram muitos. Duas sacolas cheias, alguns estavam manchados, outros queimados, mas a grande maioria estava intocada.
O dia já se findava, a noite impossibilitava a leitura. Decidiram descansar nas relvas verdes da planície no subsolo da floresta. Os cabelos brancos do homem sentado balançavam. Ele respirava profundamente e inspirava de mesma forma, deixando o ar dançar em seus pulmões. O tempo havia passado e ele não havia esquecido a sensação da concentração no simples ato de respirar. Muitos dormiam, mas conservavam-se acordados, os únicos quatro que sabiam que aquilo ali não era o fim da jornada. Loreah se remexia deitada pensando no motivo da destruição de sua terra natal, por algum motivo aquele local a fazia rever questionamentos antigos. Marian ainda sentia o sentimento de culpa, mas encontrou um descanso no ombro de Sten. O rapaz passa em sua cabeça a jornada até ali e experimentava pela primeira vez o aconchego do formar de um sentimento. As raízes no novo céu iluminavam, a tentativa de acender fogueira foi frustrada pelo ambiente as madeiras não propagavam a faísca e qualquer outro tipo de fogo a floresta rejeitava com um vento providencial. O velho guardião sentia tudo a sua volta, a floresta pedia ajuda. A pedra azul pedia liberdade.

A fresta deixou a luz adentrar de forma amena e acordar com delicadeza a todos, Os pergaminhos começaram a ser lidos. Cartas de Guardiões para suas famílias, mensagens trazidas por pássaros ou por mensageiros. Enquanto os dois procuravam alguma coisa naqueles papéis, Loreah e Marian ajudavam a todos a conseguirem a realização das tarefas que sustentariam, o rio que passava por ali auxiliava na facilidade de se plantar algo. O solo era fértil.

Sten encontrou uma carta de seu mestre, essa não era primeira que ele lia do mestre afinal foi na floresta-sem-luz que ele aprendeu a ler.

“Minha amada, aqui os dias passam e nossa missão esta indo bem.
A convivência com os sábios e exploradores é uma forma divertida de se aprender coisas, aprendi outro dia a identificar plantas venenosas e como deixar uma trilha para amigos. Ant'jur continua meu treinamento como havia comentado com você. Estou melhor no arco!

Como esta nossa pequena? Já andou?
Estou contando os sois para poder encontrar com vocês e contar pessoalmente as maravilhas que existem aqui. Falar também dos amigos inusitados que eu encontrei.

Com todo amor.

Seu Liof.”

Sten não viu quando seu mestre havia se aproximado, ele tinha lido tudo aquilo. As lágrimas nos olhos do guardião provocavam a tristeza no rapaz. Liof carregava um pergaminho um pouco amarelado na mão. Ele não conseguiu continuar a ficar de pé e sentou-se. A tarde se foi embora. O antigo deitou-se tentando acalmar seus sentimentos e lembrança, tudo era confuso, tudo ressoa mais forte em uma cabeça fragmentada. A tarde se encontrava no fim e a imagem que Loreah viu de longe foi a do aprendiz como protetor de seu professor.

Assim que Liof adormeceu, Sten abriu o pergaminho que seu mestre havia nas mãos. Entendeu metade, pois possuía alguns caracteres que ele não conseguiu ler direito.

No pergaminho tinha escrito: “Anilea, pedra de cor azul. Que não pode ser quebrada de nenhuma outra forma a não ser o aquecimento.”


Como fazer aquecimento com árvores que possuem troco e folhas que não aceitam o fogo?
— Eu sei um jeito!
Marian surpreendeu o rapaz.

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