sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A morada dos Guardiões - As memorias

Era dos sete reinos

—Liof, o relato dos exploradores que voltam do sul do monte Nyrra, é que existe uma grande floresta modificada pelo poder da magia.
Disse o ancião de longas barbas negras ao homem de armadura prateada com contornos azuis
—Enfim encontramos um lugar onde criar nossa base de observação, por qual caminho os exploradores foram?
—Pelo vale das costas do esqueleto. - Disse o homem dos olhos serenos.
—Eles se arriscaram muito, se houvesse alguém vigiando do castelo branco, nossa missão poderia ser descoberta.
—Eles buscavam o sul, você entende que se eles passassem pelo labirinto-plano seria capaz deles ficarem perdidos naquela planície durante anos antes de encontrar a saída pra algum lugar que desse na área desconhecida.
—Sim eu entendo, Já vivi o bastante para ver que algo naquele caminho faz com que quem vá nunca chegue ao seu destino. Vamos, gostaria de chegar nesse local o quanto antes. Vocês sábios estão muito tempo sem fazer nada – abriu um sorriso.
Ant'jur retribui a brincadeira com o sorrir de seus olhos.

Saindo da tenda avisou aos outros guardas mestres qual seria o destino a seguir. Desarmaram as tendas, equiparam seus cavalos, vestiram armaduras e partiram rumo ao desconhecido. Subiram em direção ao castelo até chegar a primeira pedra do caminho do vale, o nome dado ao vale vinha de como o pôr do sol se mostrava olhando para ele, as sombras pareciam se estender como a costela saindo da espinha dorsal formando assim as costas de um homem magro. O tempo escureceu, a chuva aumentava o fluxo de um rio que começava em algum lugar dentro das cavernas do monte Nyrra e terminava nas terras inabitadas. A chuva atrapalhou a travessia, andaram pouco durante o dia. Tiveram que acampar no vale a noite. Ainda não tinha cessado totalmente, a chuva apenas servia para manter encharcado tudo que havia molhado durante o dia. Os soldados lamentavam toda aquela situação, as paredes do vale não ofereciam nenhum abrigo, não havia caverna e as tendas feitas de pano tinham goteiras estrategicas. Os sábios aproveitavam de alguma forma a chuva. Ant´jur percebia a forma como ela afetava o humor de cada um dos guardas, alguns se sentiam tristes, outros irritados, muitos estavam cansados, porém um dos soldados tinha uma energia maior. A natureza parecia em harmonia com aquele homem.

—Liof, o que te mantêm nos guardiões?

O cavaleiro foi surpreendido, ele estava sentindo a chuva cair em seu rosto. Lembranças tamborilavam em seu capacete.

—Além da missão que abraçamos, estou aqui por um amigo. O meu rei. —A resposta era sincera, mas soou incompleta quando ele se escutou tentou formular e gaguejou um pouco – estou aqui por minha família, sempre estive. Acredito que poderemos mudar o rumo da história, trazer a paz sem ter que atendermos aos caprichos aleatórios dos gigantes.

Ant'jur entendeu finalmente o que movia aquele homem.

—Você lembra quando me pediu para lhe ensinar sobre como utilizar as mãos como proteção?
A chama nos olhos de Liof se manteve acesa desde o final de suas ultimas palavras, ele as sentia pairando no ar e aquecendo seu corpo.
—Lembro você havia me falado que não poderia ensinar por não me conhecer
—A primeira lição que aprendi com meu mestre é que o nosso corpo é afetado por duas forças, a mente e a matéria. Para entender por que nenhuma espada vence minhas mãos você terá que entende o porquê essa primeira lição é incompleta.
O homem de armadura olhou o sábio e coçou a cabeça, não entendeu muito bem a fala, mas estava obstinado a descobrir. Assentiu com a cabeça. O homem de aparência serena voltou a suas meditações enquanto o cavaleiro foi treinar a esgrima. A noite se tornou dia e o cavaleiro procurava entender a proposta do sábio. O dia se seguiu acinzentado por cima do vale, eles avançaram com a maior velocidade que puderam. O ânimo de alguns se esvaindo cada vez mais, estavam o fim do inverno inteiro na missão e nada de encontrarem algo novo. Apenas velhos segredos. O passo tiveram que diminuir, os cavalos estavam exauridos, montaram acampamento. O clima dessa vez não batalhou contra a paciência dos guardiões. Sem dizer uma palavra Ant'jur convidou Liof para imitá-lo em sua meditação em forma de movimentos circulares com as mãos. Alguns dos guardas mestre riram do homem. Apesar de ser um dos mais respeitados ali, a amizade criada com todos dava a ligeira liberdade da brincadeira. Ele não estava se sentindo confortável então inclui sua espada aos movimentos e tudo pareceu mais comum. Um sorriso brotou no sábio.

Três dias se passaram e o treino de Liof havia sido transmutado em meditação, apendia com facilidade a colocar as armas em fusão com os movimentos do ancião. O tiro de arco dele havia melhorado consideravelmente, quando encontraram o traço da floresta que bilha quando o sol se põe, aonde o rio some para dentro da terra,  o chefe dos exploradores abordou eles.

—Guarda Liof, a floresta é altamente – ele buscou a palavra criada pelos anciões – é… mágica. Existem árvores feitas apenas de raízes, plantas resistentes ao aço e ao fogo. Todas elas têm essa luz azulada, a noite ela se torna mais forte mas não se pode vê-la de longe.

—Obrigado Alinx, já pensou em algum lugar em que podemos criar nosso acampamento principal?
—Não. Andamos muito ao redor e testamos as plantas daqui. Escutamos murmúrios la dentro dentro, achamos prudente espera as armas pesadas.
—Fez bem meu caro, eu teria feito o mesmo — aproximou-se do ouvido do explorador — mas não conte pra ninguém.
Os dois gargalharam.
—Guardas mestre preciso de vocês — gritou o líder por espontaneidade
a formação em roda foi feita, Liof olhava para os outros treze e falou com seriedade.
—Vamos entrar em terreno desconhecido, precisaremos de dois guardas mestres com cada um dos exploradores e um ancião deve acompanhar também. Buscamos um local onde poderemos construir nosso acampamento definitivo. Hoje é o que marca nossas buscas efetivas, temos pouco tempo.

A floresta ofereceu resistência a chegada dos cavaleiros, divididos de quatro em quatro os vinte e oito guardiões partiram na busca do melhor local para se estabelecerem. Dentro da floresta a luz tênue das árvores e das raízes não iluminava, os tropeços eram comuns e quando se encontravam totalmente imersos pela escuridão, fachos de luz laranja surgiam brilhando e apagavam, da mesma forma fugaz que apareceram, criando os murmúrios. Guardas gritaram e correram para os lados opostos da luz que surgia, Liof escutou os passos e o susto do encontro de armaduras gerou ataques, ele aparou um golpe e protegeu o explorado que estava com ele de outro.

- NÃO ATAQUEM!!! SE REUNAM!!! - berrou o líder.

Rapidamente eles se encontraram e fizeram uma roda. Mantiveram os sábios e exploradores no meio dela. Viraram-se de costas e esperaram, o silêncio no meio das luzes azuis lembrava o silêncio das noites. Liof se afastou rumando em direção a escuridão quando se afastou suficiente a luz laranja o ofuscou, suas pernas se mantiveram paradas. O coração acelerou então levantou seus olhos, um servo gigante estava a sua frente as chamas alaranjadas definiam sua forma, seus chifres eram labaredas e os olhos do servo lembravam o sol apino. O cavaleiro entendeu enfim o que havia falado o ancião. O servo podia ver no homem as suas intenções, limpas como um lago e claras, ele não tinha nada a esconder. As árvores se movimentaram, as raízes se moveram. O servo guiou o guarda mestre até um buraco feito de raízes e terra. Atravessando o portal Liof viu um planície feita abaixo da terra, o ar era acolhedor, outras árvores de luz com frutos diversos e variados tipos enfeitavam o resto da paisagem, um rio corria no meio daquilo tudo, alguns animais que pareciam comuns se abrigavam ali em harmonia. O servo desapareceu. O Guardião foi buscar os outros para dizer que o protetor da floresta havia aceitado a presença deles ali, desde que não destruíssem nada. Algo dentro dele dava a certeza da aceitação e das condições.

Todos foram guiados aquele local o último a entrar foi Ant'jur. Vendo aquilo escutou então em tom de voz orgulhoso o amigo que agora conhecia.


—O nosso corpo é afetado somente pela mente, é a mente que deixa a matéria interferir e não a matéria que interfere.

O sábio sorriu e completou.

- Assim como uma batalha já esta vencida antes mesmo de começar e talvez você possa ser nossa vitória.

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