quinta-feira, 30 de julho de 2015

Novos rumos - O mundo antigo

 Sten olhava para Loreah, assim como um felino olha para alguém que esta prestes a ameaçar seu espaço. A fogueira que foi feita para aquecer os feridos sobre a pedra cinza era grande o bastante para manter todos aquecidos. Já havia se passado dois dias desde o ataque a aldeia, a comida estava escassa, mas eles não poderiam sair dali enquanto os ferimentos não estivessem totalmente curados. Depois de dois dias sem dirigir nenhuma palavra para a ladina, o rapaz chegou perto dela.
- Gostaria de saber como você foi parar no meio disso tudo? O que fazia em um lugar que você tinha acabo de roubar e ainda por cima defendendo?
Loreah manteve seu silêncio como resposta e aquilo irritou ainda mais o homem de cabelos negros. Ela estava com trajes improvisados, seu braço estava amarrado ao tronco com uma trança de cipós feita por ela. Anos na floresta cuidando de sua mãe e tendo que se virar sozinha, já haviam consolidado nela a capacidade e adaptabilidade que a mantinha viva. Sten perguntava e ela respondia sinceramente, ela não havia pensando no porque de se intrometer naquela situação toda. Foi algo maior que ela, as tropas, o marchar dos cavaleiros e o ataque sem aviso foi como se ela revivesse toda a situação de sua aldeia, ela lutou como não podia na época. Cada vida salva por algum motivo calava fundo dentro daquele ser. Era como se fossem sua família agora. Ela ainda não tinha entendido isso, talvez nunca entendesse.
Ele foi checar como estava o único homem que ainda possuía um ferimento com sangue, ele estava desacordado. O selvagem abaixou a cabeça vendo que ele estava morto.
—Vamos todos temos uma grande caminhada até as cachoeiras.

Eles entraram na mata, Sten ainda conservava o medo do ataque das raízes. Elas não atacaram. Suspirou.
—Cuidado, Qualquer um que se machucar será deixado para trás.
Eles caminhavam tensos. Cautelosos. Passado um tempo chegaram à clareira. O rapaz viu a sombra dentro da casa na árvore central da clareira. Tinha certeza que era seu mestre. Chamou um dos três guardas que restaram.
—Siga nessa direção — apontou para o lado oposto de onde estava a aldeia — lá você encontrara a cachoeira, se acomodem. Estarei lá o mais rápido que puder.
Loreah esticou sua audição. Ela se tinha como a única capaz de conduzir aquelas pessoas além de Sten, mesmo ela querendo negar que ele era uma opção.

Todos sumiram na escuridão da Floresta-sem-luz. Subindo na árvore ele escutava a respiração controlada. Um homem de cabelos acinzentados, olhava com dureza para o nada. Liof estava pensando.
—Marian passou por aqui, eu a indiquei o caminho da cachoeira. Esse era o plano que você tinha na mente. Não era?
—Sim mestre.
—Apesar de não ter te falado uma palavra se quer sobre estratégia, sobre tática ou qualquer outra coisa você absorveu isso de alguma forma.
Sten viu que Liof estava muito mais velho do que ele se lembrava. Aquele homem não era mais o louco que ele conhecia.
—Creio que precisarei de sua ajuda para completar tudo aquilo que tenho que fazer, afinal não tenho mais a mesmas capacidades físicas.
—Quem é você?
Sten não reconhecia aquela pessoa. O homem enfim se encontrou no presente. Olhou diretamente para os olhos do garoto.
- Eu sou Liof, Um dos lideres dos guardiões dos sete reinos.
- Guardiões dos sete reinos?
- Há algum tempo atrás a terra era regida por sete reinos, cada reino tinha seu rei.
-Rei?
-Assim é como chamavam os lideres dos reinos. Os reinos viveram em certa harmonia, algumas poucas vezes vimos confrontos políticos e guerras, mas ocorreram. Um reino pressionava o outro quando ficavam em desvantagem — Sten abaixou um pouco o queixo deixando-o solto, sua expressão de dúvida gerou um breve sorriso no rosto de Liof que prosseguiu — Os lideres dos reinos tinham um encontro para discutir pendências e isso ocorria quando a Flor-dourada desabrochava. Uma das coisas que mais intrigava a todos os lideres era uma construção de cor branca no alto do monte e era sempre discutido se enviariam soldados para verificarem o que era aquilo. Eles sempre votavam em não enviarem então, Sersio o Rei de Arnini quebrou esse trato enviando uma tropa. Era composta por vinte homens. Depois de muitos dias de caminhada eles alcançaram o terreno, vasculharam uma forma de entrar naquele local. Algo dentro da construção se irritou e ao abrir das portas daquele castelo os soldados foram esmagados por criaturas enormes, que possuíam características físicas idênticas as nossas.
Sten olhava com incredulidade para o Liof enquanto ele continuava.
—Um dia o mais velho dos gigantes foi falar com os reis e pediu que cada um deles oferecesse um sacrifício. Teriam que mandar o seu maior soldado para lutar com os gigantes e assim aconteceu. E esses soldados foram mortos com facilidade e os gigantes voltaram gargalhando para seu castelo. Os pedidos tinham a mesma frequência da reunião é como se soubessem que os reis iriam se reunir. —Liof conservava em seu sentir uma nostalgia contando isso – Essa foi a história contada por meu pai, Eu nasci e cresci na era dos gigantes. Os reis se modificavam, mas a servidão aos pedidos dos gigantes não. Quando me tornei guarda mestre do meu grandioso rei Sternius. O pedido dos gigantes foi dilacerador ao coração do meu senhor. Cada um dos reis devia escolher entre o filho ou a própria mulher para sacrificar e deu o prazo do desabrochar da Flor.
—Por que eles não combatiam os gigantes?
—Essa ideia não surgia na cabeça deles por saberem que com o tamanho que tinham seus reinos seriam destruídos em menos de uma tarde. Pedir para um homem em sã consciência decidir entre seus amores é pedir para ele buscar uma alternativa. O dia seguinte os reis se encontraram escondidos, decidiram buscar uma forma de enfrentar os gigantes. Criarão então Os Guardiões. Que consistia no grupo composto por sábios, grandes soldados e Exploradores. Eu me encaixava na segunda categoria. Viajamos por todos os cantos para descobrir uma forma de derrotar os gigantes. Encontramos a floresta-sem-luz e descobrimos que aqui era o lugar para pesquisar sobre as forças magicas. Magia! era como um dos mais antigos sábios chamava as forças além do nosso entendimento. Os exploradores eram nossa força de avanço, eles eram valentes o suficiente para descobrir propriedades em cada uma das coisas. Nós soldados ensinávamos a todos como se empunhar uma espada e táticas de batalha. Aprendi com Ant'ju a utilizar apenas minhas mãos como arma, ele conseguia vencer qualquer guarda mestre, mas se recusava a ensinar a qualquer um. Por algum motivo ele confiou em mim e me ensinou. O tempo passou e o dia da entrega do sacrifício se aproximava e com ele nossa missão estava sem tempo para testes. Tínhamos descobertos variadas formas com que podíamos tentar atacar os gigantes, Ant´ju e Ercinio juntaram o pensamento de suas técnicas e descobriram na pedra rubra a propriedade necessária pra potencializar a força da descoberta. Faltando quatro sois para o desabrochar da flor estávamos acampado no alto da montanha do sacrifício, em uma vila abaixo do castelo branco. O momento havia chegado e nós através da magia do sangue e da rocha conseguimos decapitar três dos cinco gigantes, quando algo nos interrompeu. O sol se enegreceu, os gigantes correram para seu castelo e de alguma forma o tempo parou, um homem com a armadura escarlate e o símbolo do castelo atacou os guardiões. Ercinio foi o primeiro a ser atacado, ele foi esfacelado como uma duna no vento. O terror tomou conta de todos, assim corremos. Eu só conseguia pensar em Irsa e minha pequena Lori. Eu corri, mas ele me alcançou, hoje eu me pergunto se não teria sido melhor ele ter conseguido me matar aquele dia, eu só escutava a voz da minha amada “Sobreviva meu amor! Sobreviva pra mim”. Eu pulei na fenda a baixo de meus pés a montanha me acolheu e algo dentro dela o espantou. O gosto de ferro surgia na minha boca, a queda foi grande, mas eu sobrevivi. Mancando dentro da caverna, Descobri o que espantou o monstro, o brilho do orbe a minha frente era vivo.
- Um orbe?
- Eu fui atacado aqui depois que encontrei o orbe—ele apontou para sua cabeça – quando o encostei eu sabia que existia alguém muito maior que os gigantes e muito mais poderoso que o monstro escarlate. Esse ser estava olhando diretamente para mim. Escutei ele gritar, praguejar e tentar me atacar, ele tentava sobrepor meus pensamentos. Ele não conseguia. Com a velocidade do meu pensamento eu estava na alameda que levava para minha casa perto do castelo do meu rei. Um dos gigantes que havia corrido estava ali, Eu me perguntei quanto tempo tinha lutado mentalmente na caverna. O orbe habitava em minha mão e vi duas mãos gigantes obliterarem o reino...

As lágrimas interromperam a história e Sten finalmente entendeu a sanidade por trás dos loucos olhos do seu mestre. Ele aguardou paciente e compartilhando a simpatia e tristeza por seu mestre.
-O que temos que fazer senhor Liof? - Sten se lembrava que a palavra senhor era levada com muita honra a um Guardião. Liof havia ensinado pra ele a muito tempo atrás sobre isso.
O olhar determinado do velhote descansou sobre o rosto do jovem, ele viu a chama vibrante do coração do rapaz e em alguma coisa lembrou a luz do orbe.
—Temos que lembrar a todos como era viver em paz e sem as algemas que o sentinela mantém a todos nós. Primeiro vamos refundar Falligan.
Sten afirmou com a cabeça se levantou
—Já estamos parado a tempo suficiente.
Os dois foram junto de encontro aos grupos de Loreah e de Marian.


O Castelo vibrou. Um ser com a altura de dois homens medianos dava um tapa no rosto de um gigante que se encontrava encolhido, segurando os próprios joelhos, algo de escurou escoou pelo ar.

- Achamos Liof! Vamos! Acorde aberração!
O gigante abriu os olhos, viu o homem de olhos negros, corpo revestido da pedra vermelha. O medo se instalou no gigante. Suas correntes foram soltas.

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