quinta-feira, 30 de abril de 2015

O roubo - Loreah

Loreah era uma jovem de cabelos dourados, olhos azuis, sua sobrancelha fazia uma curva incomum sempre a deixando com a expressão de surpresa e olhando assim superficialmente você seria facilmente ludibriado. Quando ela completou sua décima segunda primavera, sua aldeia foi atacada pelos cavaleiros escarlates, ela e sua mãe conseguiram escapar, mas não sem sofrer danos, sua mãe foi ferida gravemente na perna e ela sofreu um corte profundo em seu ombro. A mata foi abrigo durante duas primaveras, a ferida na perna da mãe ficou mal curada causando grandes problemas na locomoção delas e depois de duas primaveras trouxe a dor da perda para Loreah. Ela foi embora da floresta onde enterrara sua mãe carregando a certeza de sobreviveria como seu pai lhe ensinou, encontrou uma caverna em um paredão e daquele paredão conseguia ver Falligan.

Ela entrou em sua caverna, com a roupa do guarda que matara. Não havia outra luz a não ser a do sol que penetrava pela entrada da caverna, iluminava a perna de um homem que estava sentado.
– Sou grata pela informação da troca da guarda, foi bem útil. Tem ficado cada vez mais difícil surrupiar cristais dos próprios guardas escarlates, vou ter que mudar minha tática.
Um sorriso brotou no canto da boca da mulher. O homem esticou o rosto, era Ruflo o antigo líder da aldeia, fora expulso a duas estações. A luz enfim encontrou as correntes que prendiam as mãos, pescoço e pé.
– Agora então você poderia me libertar. - o tom de esperança em sua voz fez o sorriso dela abrir um pouco mais
– Tu terias me libertado se eu estivesse desprevenida aquele dia na floresta?
– Aquilo foi uma idiotice minha, eu estava aborrecido com minha expulsão. Sem recurso, sem moradia, encontrar uma mulher- as mãos dela seguraram a adaga com força - com uma bolsa de cristais a mostra e assando um porco-do-mato era praticamente um golpe de sorte.
No terminar da frase, ela encostou a ponta da faca no pescoço do homem que arregalou os olhos e sentiu a pele rompendo superficialmente, ele fez uma careta. Loreah parou de pressionar quando um risco vermelho derramou uma gota.
– Espero que seja mais cauteloso com suas palavras. Uma coisa que aprendi com minha amada mãe, nunca subestime alguém que caçou um porco-do-mato.
Uma lágrima brotou nos olhos do homem, ele suplicou.
– Por favor, você já conseguiu o que queria de mim. Liberte-me e nunca mais ouvirá falar de mim.
– Há outras formas de nunca mais ouvir sobre você.
Ele chorou, em pouco mais de alguns segundos de pranto ele viu algo seguir velozmente na direção do seu rosto, que já estava com algumas marcas roxas e cortes, com um soco ela o fez silenciar. Ela odiava ver um homem chorando, mesmo que fosse um tão asqueroso como aquele.

Passou-se dois dias e ela estava esperando o quinto para ir trocar os cristais por um pouco de comida, alguns metais e roupas. Quanto a Ruflo nesses dois dias ela deu um jeito de soltá-lo sangrando depois da árvore vermelha, ele implorou, mas sobre a mira do arco dela ele foi obrigado a correr até ser engolido pela vegetação. Ela voltou aliviada para aquilo que chamava de casa.
Estava pensando como conseguiria carregar seus mantimentos, talvez precisa-se de uma roupa mais surrada, feita de saco de linho e um capuz pra cobrir o rosto. Bom que os cavaleiros escarlates não se preocupavam com a aparência das pessoas, só se importavam com os cristais vermelhos, pensou ela. Escutou então um farfalhar nas matas abaixo de sua caverna.

Pegou seu arco, o punhal guardou em um movimento fluido em sua cintura e cobriu os cabelos com o capuz cor de lama, ia saindo da caverna quando seu sentido apitou, estava esquecendo os cristais. Pegou os cristais, se escondeu atrás de uma curva feita na rocha pelo tempo, observando com apenas um olho.

Dois homens alcançaram a entrada de sua caverna, um rapaz de tez morena e um velho de cabelos brancos.

Já é a segunda vez que aquele homem pode atrapalhar minha vida, eu também gostaria muito de atacar os cavaleiros escarlates, mas eu prefiro sobreviver. Só o deixei vivo porque simpatizei com a vontade dele, mais um erro pra minha conta

entraram na caverna para vasculhar, escondeu a bolsa com os cristais, encostou-se ao paredão, armou a flecha no arco e segurou mais duas flechas na mão e foi se aproximando da entrada da caverna. A voz de Liof começara a ficar audível
– Essa deveria ser a toca do ladrão, ladrãozinho.

Loreah odiava a palavra ladrão/ladra preferia ladino/ladina, gatuna ou qualquer outra com um pouco mais de classe, ela já estava na beira do da caverna quando a conversa dos dois se extinguiu. O milésimo de segundo que ela levou pra decidir se apenas apareceria um pouco já atirando, ou se saltaria e acertaria um dos dois foi o erro, uma mão magra mas forte a segurou pela garganta a outra pela roupa na cintura e foi arremessada pra dentro da caverna, fazendo seu capuz e arco caírem.
– Uma mulher!? -exclamou Sten.– Por isso a confusão criada na minha cabeça– O que falais? Por que me acusam de ser uma gatuna?- Sentiu um alivio pronunciando a ultima palavra.– É verdade, sem provas, sem acusação. Perdoe-me senhorita, o que fazes morando em uma caverna?
Ela se ajeitou, tornou a colocar o capuz na cabeça, O rapaz de cabelos pretos não relaxou como Liof. Dava pra ver a raiva estampada nos seus olhos. Ele tinha certeza de que era ela, seus instintos diziam isso claramente.
– O agradável local onde morei foi destruído pelos cavaleiros escarlates. Passei a vagar então procurando formas de sobreviver e essa caverna foi um alento em meio a tanta desventura.
A fala dela era como um abraço, desses que esquenta o coração e te deixa feliz, o velho de cabelos grisalhos foi persuadido com facilidade, a forma de falar dela só deixou Sten mais tenso, ele serrou os punhos e rilhou os dentes.
“ Não acredito que um deles não esteja caindo na minha lábia. Tenho que fazer alguma coisa ou posso acabar prisioneira ou morta”
– ...Você gostaria de ir com a gente para a aldeia aqui perto, todos lá são bem receptivo.– Não, prefiro viver sozinha. Agora por favor, deixem minha casa.
Ela estendeu a mão a Liof, ele segurou e fez uma mesura encostando o dorso da mão dela em sua testa, isso era um sinal de respeito. Ela fez um movimento rápido, segurou no pescoço do homem velho, chutou o rapaz no rosto, Sten rolou e pegou o arco que ela havia deixado cair quando foi arremessada no chão. Ela protegia seu corpo com o velho, que estava muito encurvado já que ela era mais baixa que ele. Ela colocou a mão na cintura caçando a adaga e não encontrou
– Você esta procurando isso?- Liof mostrou a adaga que reluziu no pouco de luz que havia na caverna.
Ela se assustou, os olhos dela se moveram rapidamente de um lado para o outro então deu uma rasteira nele, Sten deixou a flecha voar. Ele não tinha prática com o arco e flecha, a flecha acertou na parede lateral da caverna ela arrancou a adaga da mão de Liof e pulou pra cima do rapaz. Ela era pequena, frágil, mas bem resolvida quanto a suas atitudes, ela tinha na mente que não cometeria o mesmo erro duas vezes, deixar aquele homem vivo. Ele segurou com força o braço dela, ela deixou o corpo cair sobre o braço, ele viu que o seu braço cederia. Lembrou-se do lobo-olho-azul e por alguns segundos observou com calma a situação, ele aproveitou o peso e a empurrou para o lado, quando ele se levantou ela já estava preparada novamente para o ataque, Liof estava observando sentado com as pernas cruzadas. Ela avançou, a adaga assobiou no ar quando tentou fazer um corte no rosto do rapaz, ele deu uma joelhada no braço dela a mão firme não deixou a adaga escapar, ela acertou um soco barulhento com a outra mão no tronco dele. Ele sentiu a dor e reagiu direcionando o punho ao rosto da ladina, ela aproveitou sua estatura passou por de baixo do braço, fazendo o ataque dele falhar. Cravou a adaga nas costas, então observou Liof se levantando. Ela pegou o arco e uma flecha perto da entrada e atirou contra o homem dos cabelos grisalhos.

Não preciso mais ficar aqui. Vou arrumar outro lugar e trocar os cristais

Ela saiu, sumindo na noite que começava. Liof segurava a flecha disparada na mão, andou até Sten, tirou a adaga que foi fincada embaixo da costela. A dor inundou o corpo do rapaz de cabelos pretos, a visão começou a embaçar.
– Mestre... que bom te ver, onde estamos?
Liof pegou a faca e cheirou, havia algo além do sangue.
– Ela deve ter ido a floresta-sem-luz e molhado a adaga em um salgueiro bravos. sua seiva causa visões e é venenosa, muito venenosa.- Pensou ele em voz alta - Pra achar a limpa-corpo, teria que correr até a floresta, não temos tempo - repetiu essas três palavras muitas vezes, andou de um lado para o outro batendo as mãos na cabeça então chorou. Respirou fundo, para se acalmar. O rapaz começou a ter espasmos, a se contorcer. Liof pegou um pouco de água em um cantil jogou no rosto e então encostou sua mão na ferida causada pela faca. O calor emanou de suas mãos, adentrou a ferida e queimou. Sten gritou, sentia como se suas veias estivessem pegando fogo. Uma luz vermelha emanou da ferida que se fechava, então ele estava curado.
– Vai começar tudo de novo. - disse chorando o velho.

Dentro do castelo branco, no alto da montanha a raiva do seu dono cresceu. Ele foi surpreendido novamente e isso para ele era terrivelmente incomodo, ele não era de cometer erros. Nos postos dos soldados de armaduras vermelhas todos rilharam os dentes e fecharam os punhos. Os gigantes teriam que andar sobre Nyrra mais uma vez.

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