segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O homem que mudava historias - Liof, o louco da floresta

Essas folhas verdes são engraçadinhas, ficam cocando meus arranhões, o céu ta bem azul, o que é isso na ponta do meu dedo? Cuidar da escuridão cuidar... Quem gritou? Onde? Vamos, nem lembrava que sabia passar tão fácil pelas árvores, como sei disso? Olha uma borboleta, o grito! O grito!! Uma mulher morta, um homem sangrando, daqui a pouco a floresta faz eles viverem dentro dela, o cara com a espada vai matar o menino, isso não é justo, não é justo! Vamos la vamos la! Pular da árvore nele seria legal
senhor tenha vergonha, sem honra alguma?
não se meta nesse assunto. Você não reconhece minha armadura e o símbolo nela
símbolo legal, não iria me meter mas não é justo, não é justo, não é justo — repetia constantemente balançando a cabeça
você já me irritou
O homem de armadura escura atacou, o magrelo de olheiras se esquivou muito rápido, mais rápido que sua idade poderia aparentar. Utilizando-se do peso da armadura, o senhor dos cabelos acinzentados torceu o braço do cavaleiro, o estalo ecoou seguido do grito de dor, a fúria tomou conta do ferido, o menino de uns cinco anos olhava toda aquela ação em silêncio. Desvencilhou-se o cavaleiro. A raiva cegou o pensamento e os próximos ataques vieram como uma besta atrapalhada que é grande demais para passar sem esmagar as pessoas, ouviu-se mais uma sequência de estralos, pulsos, cotovelos, dedos, joelhos, pés foram deslocados, quebrados, torcidos com uma rapidez e facilidade que levou o horror da morte aos olhos do cavaleiro. Aos passos calmos, buscou como se já soubesse onde procurar uma adaga, que ficava na cintura daquele tipo de cavaleiro. Entregando ao garoto enfatizou como um floreio no movimento
agora sim vocês terão uma luta justa, utilize a espada com sabedoria e não se esqueça, essa floresta está viva!
A justiça foi feita! Utilize a espada com sabedoria que engraçado de se dizer, sempre quis dizer isso! Agora espero que o menino sobreviva
Um grito interrompeu o pensamento, o grito vinha debaixo das árvores, abafado e sumindo.
A floresta se moveu, garoto esperto, ainda não sabe o que significa sobreviver mas é justo o suficiente, gostaria de ter um filho assim... Um castelo sendo esmagado por mãos gigantescas, uma mulher gritando, um bebe chorando, meus olhos veem uma placa de metal, os escombros gerados acertam pessoas aleatórias, porque eu não me mexo? Porque? Poque essa tristeza profunda? Essas imagens loucas Olha uma borboleta, o que aquele menino faz me seguindo?
você de novo? Vem vamos precisa de comer alguma coisa, e pare de chorar
O menino engoliu o choro e seguiu se sentindo seguro
Primaveras se completaram, Liof se apegou ao menino, via que desde muito novo a sua disciplina era exemplar, o menino escutava cada uma de suas instruções, mesmo que as instruções fossem displicentes e loucas.
-precisamos de comida, esta vendo aquele buraco perto da cachoeira pode ser um local bom para procurar.
O menino afirmou com a cabeça o entendimento de tudo aquilo, pegou um pedaço de pedra pontiaguda e foi em direção ao buraco, sentiu o ambiente em volta, pulou sem verificar a profundidade do buraco que tinha o diâmetro necessário para ele apoiar os pés. Ele sumiu na escuridão. Um silvo surgiu no ar. O menino foi arremessado com violência de dentro do buraco, ele se segura nas narinas de uma serpente d'água, o olhar dele era de desespero fitando o seu mestre.
-Sobreviva garoto! Sobreviva!
Ele repetiu as palavras afinando a voz e dançando desengonçadamente, enquanto isso a serpente balançou para a esquerda tentando esmagar o menino em uma pedra, rapidamente ele saltou de cima de sua cabeça e bateu as costa em uma superfície menos pontiaguda que apenas arranhou a pele, em meio a dor entendeu que aquele homem não iria o ajudar como sempre, seu olhar se tornou determinado. Estava acuado feito um rato, lembrou-se de sua pedra segurou-a na mão apertou com alguma força, a cobra sentiu a mudança de atitude mas atacou, rapidamente ele utilizou o paredão pedroso que havia nas suas costas para pegar impulso o suficiente para se movimentar em direção ao olho, acertando e fazendo o silvo de terror tornar-se de dor, aproveitando o debater do animal cravou a pedra no outro olhou, agora cego o animal recuou para o buraco de onde havia saído. Pegando a pedra em sanguentada ainda, aproximou-se do buraco e cravou a pedra na barriga do reptil, o incomodo fez ele aumentar a velocidade com que ia para dentro do buraco, isso a pedra prendeu durante um tempo na parede do buraco para abrir uma ferida. O som atormentador da serpente cessou, o menino pulou no buraco e no fundo um lago subterrâneo se mostrou, dentro dele uma serpente morta, arrancou carne suficiente da serpente e ainda pegou a ponta da presa da cobra, Saiu com dificuldade do buraco pois carregava uma grande quantidade de peso ao chegar no topo o velho amigo o puxou para fora, parecia estar preparado para algo, o menino enxergou em traços aquarelados e logo os sentidos foram.
O crepitar do fogo acordou o garoto ele olhou buscando alguma explicação para a noite e para a sua perca de razão.

simplesmente o sangue da cobra d'água é venenoso, depois de alguns minutos perde-se a visão, perde-se o tato e logo perde-se a vida.

O silêncio do garoto demostrou o entendimento da lição, assim como todas até ali aprendidas.

-Já sei, você vai se chamar: Sten! Como demorei pra encontrar seu nome!
Rindo muito de sua demora. O menino acabará de ganhar seu nome depois de passar onze invernos ao lado daquele velho que deixara de ser um louco vagando por uma floresta, para ser um louco que cuida de um menino como se fosse o melhor dos pais.

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